Por: Júlia Beatriz Oliveira

Cabruca é o nome de um manejo de cacau do sul da Bahia. Por que esse nome? Ele veio do próprio falar. “Venha cá brocar a mata”, convite para plantar na região, virou “cá brocar” que virou “cabrucar”, novo verbo da região. 

Hoje o manejo de cabruca é conhecido por ser um dos principais modelos de agrofloresta de cultivo de cacau na área e ganhou popularidade com o remake da novela “Renascer” em 2024.

Sabia que esse método é produtivo, lucrativo, sustentável e combateu uma praga assoladora? A própria novela mostra parte dessa história.

A novela Renascer teve sua primeira versão exibida em 1993, quando uma praga chamada Vassoura de Bruxa quase destruía por completo a produção de cacau no Brasil.

A vassoura de bruxa é causada pelo fungo Moniliophtera perniciosa, que deixa os galhos do cacaueiro secos e espigados.

Aí os produtores  precisaram encontrar novas maneiras de produzir o fruto que dá origem ao chocolate. 

Uma delas foi o manejo de cabruca, uma técnica agroflorestal, ou seja, sustentável – e também extremamente produtiva. 

Sabe como ela é feita?

Boa parte do manejo é feito ainda na mata, que provê sombra e sensação térmica agradável para a atividade. 

As etapas do manejo cabruca são as seguintes:

1. Colheita

2. Quebra de cacau com facão e remoção da polpa

3. Separação da polpa da casca

4. Beneficiamento (fermentação alcoólica das amêndoas e seca)

Safra: setembro a fevereiro

Produtividade e renda

Um estudo do Instituto Arapyaú com apoio do WRI Brasil mostrou a possibilidade de retorno de investimento de 12% pelo manejo adequado, o que gera renda entre R$5 e R$8 mil por hectare

O cultivo do cacau nessa modalidade diminui os efeitos negativos de mudanças climáticas para as plantações desse fruto. Isso porque a sombra das árvores da cabruca ajuda a estabilizar o clima da plantação, que se feita a pleno sol pode ter uma perda maior de área. 

Legislação amiga do manejo cabruca

O uso de sistemas agroflorestais está previsto no Código Florestal, a lei 12.651/2012, que regula a vegetação nativa nas propriedades rurais.

Por ser na Mata Atlântica, a legislação prevê que 20% da área seja coberta de Reserva Legal, ou seja, protegida. 

Caso o produtor não tenha isso, isso vai ser apontado na hora de validar o Cadastro Ambiental Rural (CAR) para que seja regularizado pelo Programa de Regularização Ambiental (PRA).

O plano de recuperação nesse programa pode incluir sistemas agroflorestais, ou seja, deve gerar renda e produção!

Ela também traz outros benefícios possíveis, previstos também pelo Código Florestal: são os projetos de Pagamentos Por Serviços Ambientais (PSA), ou seja, projetos que geram renda ao produtor por ele manter a floresta em pé e, assim, um meio ambiente equilibrado para todos nós. 

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