Por: Willian Oliveira / Edição: Júlia Beatriz Oliveira

De acordo com o último censo agro, realizado em 2017 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 76,8% dos 5,073 milhões de estabelecimentos rurais do Brasil foram caracterizados como pertencentes à agricultura familiar. Dessa forma, quando esse número é colocado em valor de produção, a pesquisa do IBGE indica que a produção da agricultura familiar gerou receita de 106,5 bilhões de reais (23% do total). 

O resultado, além de ser considerado positivo, desempenha um importante papel  socioeconômico, ambiental e cultural no país. Mas mesmo assim os agricultores familiares enfrentam diversas dificuldades, sobretudo em relação à produção e seu escoamento. 

Inserção em mercados, concorrência com grandes produtores, incentivo para produzir e acesso ao conhecimento técnico são algumas das questões que atravessam a agricultura familiar. 

A partir deste contexto, se intensifica no Brasil, como alternativa ao modelo de produção agrícola que é majoritariamente feito por meio da monocultura em grandes latifúndios, a inserção do cooperativismo na produção rural familiar.  

Para entender melhor sobre o tema, primeiro é preciso compreender o conceito.

Assim, o cooperativismo aparece com o objetivo de ser um empreendimento coletivo por meio de uma gestão democrática, com participação popular e comunitária e com a distribuição igualitária dos resultados alcançados pelos membros. 

Na conjuntura da agricultura familiar, a entrada desta alternativa não enfrenta muitas dificuldades. Isso se dá pelo fato de que esses produtores já realizam a sua produção a partir de uma ideal compartilhado que não coloca o ganho em primeiro lugar.  

Com a formalização de cooperativas, as famílias do campo conseguem adquirir mais relevância e visibilidade. Consequentemente, conseguem desenvolver atividades conjuntas visando o aprimoramento daquilo que é produzido. E isso se dá por meio de orientações técnicas, processamento de produtos e pela garantia da comercialização em mercados, que de maneira individual, alguns produtores não chegariam. 

Coopercap    

O interior do estado de Goiás abriga vários exemplos muito importantes da construção coletiva camponesa no contexto do cooperativismo. Um desses é a Cooperativa Mista Agroindustrial dos agricultores familiares dos municípios de Caiapônia e Palestina de Goiás.

Nomeada de Coopercap, a iniciativa nasceu em 2009 a partir de um anseio de agricultores familiares. O objetivo era criar uma organização que contemplasse a produção de famílias das diferentes comunidades não só de Caiapônia, mas também do município de Palestina de Goiás. 

O empreendimento surgiu dentro do Assentamento Cachoeira Bonita por meio da atuação do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar de Caiapônia (Sintraf) e com o apoio e assessoria imediata da Comissão Pastoral da Terra (CPT), braço da igreja católica que dá suporte aos trabalhadores rurais. 

Gerailton Ferreira Dos Santos, agente da CPT na Diocese de São Luís dos Montes Belos de Goiás, é um dos principais representantes da Coopercap. Ele ressalta a importância do cooperativismo, sobretudo em relação ao suporte técnico fornecido aos produtores rurais. 

O sistema cooperativo tem uma influência muito grande no contexto econômico dos produtores. Muitas vezes o agricultor consegue fazer uma grande produção, mas não consegue comercializar. É aí que a cooperativa entra para processar e agregar valor à produção e colocar no mercado garantindo a comercialização”.  

Atuação

Atualmente, o trabalho dos produtores que fazem a Coopercap não fica localizado apenas nos seus municípios de origem. A atuação coletiva dos trabalhadores já atende diversos municípios vizinhos. Piranhas, Iporá, Doverlândia e Arenópolis são alguns dos exemplos. 

A estruturação da Coopercap vem sendo feita a partir de uma grande produção. Hortaliças, frutas, polpas, derivados da cana-de açúcar, doces em geral e derivados da mandioca são alguns dos produtos. Todos esses itens são comercializados de maneira mais direta dentro do Território Médio Araguaia. Projetos como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) também recebem as mercadorias.

Ainda sobre a atuação da cooperativa, Gerailton relata que a Coopercap se tornou uma referência, não só em produção, mas também pela sua capacidade de articulação e envolvimento no processo de organização, seja com os agricultores familiares ou com as famílias que estão acampadas às margens de rodovias e que não recebem apoio.

A Coopercap tem colocado no mercado os produtos da agricultura familiar. Além disso, estamos conseguindo construir um processo de formação permanente juntamente com a Universidade Federal de Goiás e outros parceiros . Hoje a cooperativa tem uma grande potencialidade produtiva e de estudo de mercado. Em breve seremos referência para todo o Estado de Goiás e quem sabe para o Brasil. Faz sentido pensar assim, já que é a agricultura familiar que alimenta o país ”. 

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