Sunset on beautiful cerrado vegetation landscape with tree silhouette, Chapada dos Veadeiros, Goias, Brazil

PorWillian Oliveira / EdiçãoAnna Francischini

Bioma mais antigo do mundo está ameaçado pela produção de soja, que prejudica a própria agricultura

Falar de agricultura é também falar de biodiversidade, de água, de vegetação e também dos seus desafios. Pensando nisso, o Nós do Mato preparou uma série sobre cada um dos 5 biomas terrestres do Brasil, e o de hoje é o mais antigo do mundo: o Cerrado.

Um dos biomas mais fascinantes do Brasil está ameaçado pelo desmatamento e pelas queimadas. Um relatório do MapBiomas divulgado na última quarta-feira (11), aponta que nos últimos 30 anos, 27% de toda sua vegetação original foi perdida. Ainda, desde o último domingo (7), o bioma ultrapassou a Amazônia e é o mais queimado do país.

Solo fértil

Conhecido por sua rica biodiversidade e considerado o ‘berço das águas brasileiras’, o Cerrado abrange partes de estados de todas as regiões brasileiras. É lá onde o lobo-guará e o tamanduá-bandeira, animais que são a cara do Brasil, podem ser encontrados.

O solo cerratense fértil e as condições climáticas favoráveis propiciam o desenvolvimento de atividades agrícolas, o tornando responsável por 60% de toda produção nacional, incluindo culturas como soja, milho, algodão e café. 

E é justamente esse setor que traz desafios significativos, especialmente em relação ao equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental.

O Cerrado apresenta a mais alta taxa de desmatamento relativo e a segunda taxa absoluta. Esses números vêm principalmente da expansão de pastagens e do cultivo de grãos, como a soja e outras commodities agropecuárias. Em relação às queimadas, entre janeiro e agosto de 2024 o fogo devastou no bioma uma área equivalente ao tamanho da Suíça.

O problema é que com a degradação ambiental, os ciclos relacionados à chuva são interrompidos, resultando em menor oferta de água para irrigação e comprometendo a produção agrícola no futuro.

Isso porque, as nascentes dos rios Tocantins, Araguaia, Tapajós e Xingu estão localizadas nas regiões de Cerrado e as árvores presentes neste bioma tem uma característica de serem muito maiores para baixo da terra, fazem do bioma uma ‘floresta invertida’.

Essa vegetação tem um papel fundamental para a infiltração da água da chuva, tornando o Cerrado uma grande ‘caixa d’água’. Entretanto, com cada vez menos vegetação, o bioma está cada vez mais seco. Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP) feita em julho deste ano, indica que a seca no cerrado brasileiro é a maior dos últimos 700 anos.

Com isso, além da população de menor renda, os pequenos e médios produtores rurais são os mais afetados. Isso porque eles dispõem de menos recursos para mitigar chuvas devastadoras ou a seca extrema, utilizar sistemas de irrigação avançados ou contratar seguros agrícolas.

Os povos e etnias que compõem a diversidade e a originalidade do bioma também são afetados. Um exemplo disso são as quebradeiras de babaçu, os povos originários que se dividem entre os 156 territórios indígenas e também as comunidades tradicionais como apanhadores de flores e ficheiros. 

Código Florestal

Um outro fator é a grande dificuldade de cumprir o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), seja por falta de políticas de incentivo ou pela não efetivação de ações de comando e controle. Isso torna a vegetação natural do Cerrado bastante vulnerável a desmatamentos ilegais em Reservas Legais (RLs) e Áreas de Preservação Permanente (APPs), uma vez que cerca de 99% do desmatamento no Brasil é ilegal.

Mas apesar da realidade, existem alternativas de boas práticas para salvar o Cerrado. A consolidação e ampliação da proteção do bioma em áreas privadas é uma delas. Para isso é necessário que o cumprimento do Código Florestal seja acompanhado de uma política pública multissetorial, que estabeleça diretrizes de ação do Estado. 

Entre as políticas públicas essenciais, podemos citar a  implementação de um manejo integrado do fogo (MIF), a criação de mecanismos econômicos para a redução voluntária do desmatamento, o desenvolvimento de pesquisas e inovações para dar suporte à restauração em larga escala, entre outras. 

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