Foto: Ricardo Oliveira/Divulgação

Por: Igor Fernandez de Moraes / Edição: Júlia Oliveira e Willian Oliveira

A Amazônia é um patrimônio natural inestimável, não só para o Brasil, mas para o mundo. Sua preservação (e sua restauração) é essencial para o equilíbrio climático, a proteção da biodiversidade e a economia das populações locais. Além disso, práticas sustentáveis, como a criação do pirarucu com técnicas de manejo, trazem oportunidades de geração de renda sem degradar o meio ambiente.

Neste artigo, vamos explorar – com humildade e com o objetivo de estimular mais debate e estudos de casos práticos e projetos sobre o tema – a relação entre a preservação da Amazônia, a culinária sustentável, com destaque para o pirarucu, e o Código Florestal (Lei nº 12.651/2012), que protege esse bioma e garante segurança jurídica aos povos tradicionais da floresta e aos produtores rurais locais.

A Amazônia e Sua Importância Global

A Amazônia é o maior bioma tropical do mundo e atua na protagonista na responsabilidade por regulação do clima e abriga uma vasta biodiversidade. Sua destruição, seja pela expansão descontrolada da agricultura ou pela exploração ilegal, tem efeitos negativos diretos, como a alteração dos ciclos e dos volumes de chuva e o aumento e oscilação das temperaturas.

Para os produtores rurais, isso representa uma ameaça, pois o desmatamento afeta a produção agrícola e a disponibilidade de recursos naturais essenciais, como água.

O Papel do Código Florestal

O Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.651/2012) é uma legislação fundamental que busca conciliar a produção rural com a preservação ambiental.

Ele define áreas de preservação permanente (APP) e reservas legais (RL), por exemplo, garantindo que parte das propriedades rurais seja destinada à preservação da vegetação nativa.

O Código é especialmente relevante para biomas como a Amazônia, focando na proteção da floresta e, ao mesmo tempo, oferecendo aos produtores rurais segurança jurídica e oportunidades de geração de renda através de projetos como o de créditos de carbono. 

Além disso, a lei garante incentivos econômicos ou fiscais, como a obtenção de financiamentos ou seguros em condições diferenciadas das opções tradicionais existentes no mercado financeiro, ou a exclusão de APP e da RL da base de cálculo do imposto sobre a propriedade rural (ITR). Todos estes – e outros – são instrumentos que visam incentivar o desenvolvimento sustentável.

O Pirarucu: Um Tesouro Amazônico

O pirarucu (Arapaima gigas) é um dos maiores peixes de água doce do mundo (pode chegar a 3 metros de comprimento e pesar até 200 quilos) e tem grande importância para o ecossistema amazônico e as comunidades locais. Sua pesca e criação sustentáveis promovem a preservação do ambiente aquático e oferecem uma fonte de renda significativa para os produtores.

Além disso, o manejo responsável do pirarucu contribui para a manutenção dos recursos naturais e ajuda a combater a pesca predatória, gerando um ciclo  de sustentabilidade e economia.

A título de exemplo, segundo dados do Programa de Manejo de Pesca do Instituto Mamirauá, “o plano desenhado com base na ciência funciona com períodos de defesa do pirarucu – de 1º de dezembro a 31 de maio, época de cheia da várzea amazônica. De 1999 a 2018, na área abarcada pelo manejo na região do Médio Solimões, a população do pirarucu saltou de 2.507 a 190.523 espécimes”.

Apesar do caso do manejo de pirarucu ser desenvolvido principalmente em unidades de conservação, uma categoria de área protegida que prevê o estabelecimento de planos de manejo, imóveis rurais privados e comunidades rurais fora de áreas protegidas, áreas onde incide o Código Florestal, também colecionam exemplos de manejo sustentável. 

  1. Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Fazenda São Nicolau, MT: A Fazenda São Nicolau é um exemplo de propriedade rural privada que realiza manejo sustentável de recursos naturais, incluindo a recuperação florestal e o desenvolvimento de práticas de manejo florestal e agroflorestal que respeitam o Código Florestal.
  2. Fazenda Santa Fé, MS: Esta propriedade desenvolve o manejo sustentável de madeira e a criação de gado em áreas que seguem os princípios do Código Florestal, buscando reduzir o impacto ambiental ao manter a reserva legal e as áreas de preservação permanente (APPs) intactas.
  3. Associação Agroextrativista de Barcelos (AM): Comunidades rurais no Amazonas, fora de áreas de proteção formal, manejam o pirarucu de forma sustentável por meio de acordos comunitários de pesca, seguindo regras de defeso e monitoramento, demonstrando que o manejo sustentável pode ser implementado em áreas onde o Código Florestal se aplica.
  4. Projeto Olhos D’Água da Amazônia, PA: Pequenos agricultores na região de Santarém adotam práticas de agroflorestamento e manejo sustentável de recursos naturais em suas propriedades, respeitando as regras do Código Florestal e garantindo a conservação de nascentes e APPs.

Esses exemplos mostram que o manejo sustentável é possível tanto em áreas protegidas quanto em propriedades privadas e áreas rurais fora de unidades de conservação, desde que alinhado com legislações como o Código Florestal.

Culinária Sustentável – O Carbonara Amazônico (de Pirarucu)

A sustentabilidade não está apenas na produção, mas também nas escolhas do nosso dia a dia. O pirarucu, além de ser um peixe rico em sabor e nutrientes, é um excelente exemplo de ingrediente sustentável. Ele pode ser a estrela de pratos criativos e deliciosos, como o Carbonara Amazônico, uma versão brasileira de um clássico italiano, mas com ingredientes amazônicos criado pela chef Bethania Bressanim.

Aqui está uma forma simples de preparar:

  • Ingredientes: Pirarucu defumado, ovos, queijo parmesão, pimenta-do-reino e espaguete autoral de chicória.
  • Passo a passo:
  1. Cozinhe o espaguete até ficar al dente.
  2. Enquanto isso, desfie o pirarucu defumado.
  3. Em uma tigela, misture os ovos com o queijo ralado e a pimenta-do- reino.
  4. Escorra o macarrão e misture rapidamente o Pirarucu e a mistura de ovos e queijo, formando um molho cremoso.

Essa receita não só destaca o pirarucu, mas também reforça a importância de consumir ingredientes regionais, algo que pode ser incorporado ao dia a dia dos produtores rurais, das comunidades e de qualquer restaurante chique de gastronomia ítalo-amazônica.

Conexão entre Preservação e Culinária Sustentável

A escolha de ingredientes sustentáveis, como o pirarucu criado de acordo com técnicas de manejo, não beneficia apenas quem consome, mas também todo o sistema ao redor. Ao adotar práticas como essa, os produtores rurais ajudam a preservar a Amazônia e a cumprir as diretrizes do Código Florestal.

A pesca sustentável do pirarucu, por exemplo, respeita o ciclo natural do peixe, garantindo sua reprodução e contribuindo para o equilíbrio ambiental. Além disso, promove a economia local, beneficiando as comunidades ribeirinhas e preservando a biodiversidade da região.

A preservação da Amazônia, aliada ao cumprimento do Código Florestal e ao uso de práticas sustentáveis, como a criação do pirarucu com as melhores técnicas de manejo da pesca, representa o futuro do desenvolvimento rural no Brasil.

Ao integrar esses conceitos, conseguimos não só proteger um dos maiores patrimônios naturais do planeta, mas também gerar oportunidades econômicas para os produtores rurais e todo o restante da cadeia produtiva, até a mesa do consumidor.

Assim, escolhas conscientes – tanto na produção quanto no consumo – têm o poder de transformar realidades e preservar a Amazônia para as futuras gerações.

7 thoughts on “Amazônia, o Carbonara Amazônico (de Pirarucu) e o Código Florestal

  1. Parabéns pelo artigo. É sempre bom difundir a maravilhosa culinária amazônica, com exemplos do uso responsável dos nossos recursos naturais, mostrando que é possível gerar renda sem destruir os biomas.

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