Por: Anna Francischini

O acarajé, alimento popular do Nordeste brasileiro, carrega consigo não só sabores marcantes como também parte da história afro-brasileira. Nessa edição da série Da terra ao prato, o Nós do Mato apresenta a sua origem e a relevância do seu ingrediente base para a agricultura familiar: o feijão fradinho.

Origem

Trazido da África Ocidental a partir do século XV, o “bolinho de fogo”, como também é chamado o acarajé, cruzou o oceano atlântico junto a milhares de negros escravizados que trouxeram de bagagem suas histórias de vida, costumes e culturas milenares. 

Ao chegar no Brasil, o acarajé se populariza sobretudo na Bahia e sua comercialização começa neste período, se tornando fonte de renda para os terreiros. 

Hoje, barracas de rua e festas populares tradicionalmente oferecem acarajé, representando um pilar importante para a cultura alimentar baiana. Assim, em 2005, o ofício das “Baianas do Acarajé” foi reconhecido como Patrimônio Nacional e inscrito no Livro dos Saberes, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).

Produção agrícola do feijão-fradinho

Porém, o Acarajé não seria o que é sem o feijão-fradinho, o seu principal ingrediente. Natural do ocidente e da parte Sahel e Central do continente africano, esta espécie carrega como característica a boa produção em regiões áridas e semi-áridas, e por este motivo, quando chega ao Brasil tem estabelecida a sua produção no sertão brasileiro, onde predomina o bioma Caatinga. 

Os responsáveis por colocar as mãos na terra e fazer o plantio do feijão-fradinho são os agricultores familiares, que respondem por 85% de toda a produção no país, de acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Assim, as regiões norte e nordeste do Brasil lideram a produção do grão, que desempenha um papel fundamental na economia local, gerando emprego e renda para diversas comunidades.

Rico em proteínas, fibras e nutrientes essenciais, os seus benefícios se estendem ainda à lucratividade, para quem o planta, uma vez que o cultivo dessa lavoura é de ciclo curto. Na prática, isso significa que o agricultor tem a possibilidade de plantar o grão em três safras durante o ano: as safras das águas, da seca e do inverno.

Além disso, a plantação do feijão pode ser também integrada a outras culturas, como o milho e a mandioca, promovendo a diversificação da produção. Para isso, o plantio pode ser feito por meio das agroflorestas, que:

  • Melhoram a fertilidade do solo;
  • Ajudam na regulação do microclima e;
  • Contribuem com a conservação da biodiversidade.

Baixo impacto ambiental

Além de sua relevância para a segurança alimentar e renda de famílias agricultoras, o feijão caupi é também uma cultura de baixo impacto ambiental. Isso porque, ele se adapta bem em solos mais pobres e tem baixa necessidade de fertilizantes nitrogenados. Desta forma, contribui para a redução da emissão de gases poluentes, responsáveis por eventos climáticos extremos que tanto têm prejudicado a produção agrícola no Brasil.

O feijão-fradinho é um ingrediente versátil utilizado em outras iguarias da culinária nordestina, como o abará, acarajé branco, e o baião de dois. E falando em acarajé,  uma curiosidade é que o bolinho é ‘primo’ do falafel, um prato típico da culinária de países árabes, preparado com grão-de-bico.

Ficou com vontade? você pode fazer o acarajé em casa, seguindo a receita:

Receita de Acarajé

Ingredientes:

  • 500g de feijão fradinho cru
  • 1 cebola média
  • Sal a gosto
  • Óleo de dendê para fritar

Modo de Preparo:

  1. Deixe o feijão de molho: Lave bem o feijão fradinho e deixe de molho em água fria por pelo menos 8 horas (ou de preferência, durante a noite).
  2. Retire as cascas: Escorra a água e retire as cascas do feijão esfregando-os entre as mãos em água corrente. Repita esse processo até que a maioria das cascas tenha sido removida.
  3. Triture o feijão: Escorra bem o feijão e triture-o no liquidificador ou processador de alimentos com a cebola e o sal até obter uma massa homogênea e aerada. Se necessário, adicione um pouco de água para facilitar o processo.
  4. Modele os acarajés: Com o auxílio de duas colheres, pegue porções da massa e modele os acarajés em formato oval.
  5. Frite em óleo de dendê: Aqueça o óleo de dendê em uma panela funda e frite os acarajés aos poucos, até que fiquem dourados e crocantes.
  6. Escorra e sirva: Retire os acarajés do óleo e coloque-os sobre papel toalha para escorrer o excesso de gordura. Sirva quente, acompanhado de vatapá, caruru, camarão seco e pimenta a gosto.
  7. Seu recheio leva camarão, pimenta, vatapá, caruru e salada de tomate verde

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *