Foto: Willian Oliveira

Por: Giovana de Miranda, Maria Fernanda Ribeiro, Igor Rodrigues e Yandria Rayellen / Edição: Willian Oliveira

Camponesas e camponeses ressaltam a importância da produção alimentar no campo e de como isso também alimenta a cidade

A cidade e o campo são formas concretas onde se é possível materializar um modo de vida. E, historicamente, essa relação é vista por meio de uma divisão do trabalho. Na cidade há o trabalho intelectual. No campo, trabalho manual. Entretanto, iniciativas que tendem a quebrar esse paradigma são cada vez mais frequentes e têm ajudado a construir novas formas de se pensar o espaço que ocupamos nas cidades.

A ideia de que a cidade é beneficiada com o produto oriundo do campo, não é de toda forma equivocada. Mas essa relação tem adquirido novas nuances, como explica o senhor Valdir Barbosa, agricultor de Palmeiras de Goiás e colaborador das Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSA), projeto que consiste em um financiamento para a produção de frutas e hortaliças sem o uso de agrotóxicos.

Relações

“Isso aqui chama CSA. Significa Comunidade que Sustenta a Agricultura. É um grupo de consumidores que vive na cidade e financia nós para ‘produzir’ para eles. Eu acho muito gratificante essa relação. Eu como produtor e lá na outra ponta o consumidor. É uma relação de amizade, de respeito um com o outro, e de conhecimento de ambas as partes. Tanto a gente tem conhecimento através das coisas da cidade, [quanto para as pessoas da cidade] essa relação forma conhecimento sobre o campo. Então é uma troca de saberes.” — conta.

Para além desse intercâmbio de saberes, nos espaços que compreendem as cidades é possível observar diversos usos do território, como o surgimento de novas formas de habitação ou técnicas de produção de alimentos, a exemplo da chamada agricultura urbana. Mas este espaço evidencia, também, um cenário de eterna disputa, seja por moradia, seja por comida no prato ou ainda de identidade cultural.

Queijo Cabacinha

Mara Cristina, especialista em queijo cabacinha, ressalta a importância de se valorizar o trabalho realizado na agricultura familiar, e enfatiza ainda mais a importância de um reconhecimento da indicação geográfica para o trabalho elaborado por anos.

A briga da produtora rural, ao lado de trabalhadores que também estão em busca desse reconhecimento, é para que a característica do queijo cabacinha seja mantida.

Queijo cabacinha.
Foto: Divulgação.

“Então nós estamos na busca, né?! Desse reconhecimento do IG, [Indicação geográfica] tem mais de doze anos, e já estamos na etapa final dessa busca. São três estados que fazem parte, que são Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás. São dez municípios no total e temos uma associação, onde a gente se uniu pra poder trabalhar em prol [dessa luta], e agregar mais valor através dessa indicação.” — explica Mara Cristina.

Para a produtora rural de Mineiros, que fala com orgulho sobre a produção totalmente artesanal do queijo cabacinha em sua propriedade, ainda existem muitos estereótipos sobre a vida de quem mora no campo e ela afirma que mesmo morando em uma fazenda, dispõe de toda tecnologia e conforto para administrar os negócios.

Produtos advindos da produção da agricultura familiar de Lemiston Yuri.
Foto: Yandria Rayellen

“Muitas pessoas acham que você está na zona rural desenvolvendo um trabalho, que é uma uma subcondição de trabalho. [Mas] é uma empresa, que fica na zona rural. Que precisa de ter lucro, ter receita, que tem as despesas. Então é como qualquer empresa, a diferença é o local. Onde você acorda, você escuta o galo cantar, a vaca mugir, os passarinhos.. Então você tá num contato, em um ambiente de empresa diferente.” — diz. 

Trabalho artesão

Morador do assentamento Arruda Sampaio localizado no município de Amaralina, em Goiás, Lemiston Yuri e sua família possuem uma ONG voltada para o trabalho artesão. 

Ele destaca a importância da agricultura familiar, uma atividade bastante importante e que, segundo o artesão, é responsável por cerca de 80% dos alimentos que chegam na mesa das pessoas.

Doces, artesanatos, conservas e licores, todos materiais oriundos do processo de extrativismo, fazem parte da banca montada nas feiras da região. Lemiston ainda afirma que todos os produtos que ele e sua família vendem, advém de materiais coletados na natureza. 

“E aqui na nossa barraca a gente trouxe alguns doces, conservas e licores, tudo é feito no assentamento. Temos também um artesanato feito com materiais da natureza, sustentáveis. Esse aqui é de casca de coco, temos algumas plantas ali, aqui são sementes de caju do Cerrado”, explica. O artesão expõe a importância desse trabalho, mas ressalta a falta de apoio, como um desafio.

A noção do que é espaço, na literatura geográfica, pode ser entendida como uma extensão que compreende  todos os corpos ou objetos que constroem a significação do ato de ser e estar em algum lugar. Ao se pensar em ocupar o espaço, seja físico ou simbólico da cidade, é preciso questionar não só o que isso significa, mas também, o impacto sobre a relação fundamental do campo – cidade como formações que dependem uma da outra para se constituir enquanto tal.

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