Plantação agroecológica em Iporá, Goiás

Foto: Heloisa Sousa

Por: Willian Oliveira / Edição: Júlia Beatriz Oliveira

A sociedade vem experimentando ao longo de sua existência as mais diversas formas de mudanças em suas atividades. Uma delas é a agricultura.

Entenda a importância da agroecologia para a produção rural nos dias de hoje

Antes de mais nada, é importante saber que a agricultura pode ser definida como o conjunto de técnicas e conhecimentos que busca a produção de alimentos, por meio da plantação, colheita e também a criação de animais. No Brasil, sua execução é repleta de conflitos e contradições. 

Como resultado da revolução verde, período de disseminação de novas tecnologias como sementes geneticamente modificadas, a agricultura foi atravessada pelo modelo industrial de fabricação. 

Dessa forma, as estratégias de implantação de novas técnicas trouxeram, em certa medida, bons avanços. Mas também apresentaram mudanças nas relações de trabalho, o uso da terra, a produção agrícola e a relação com a alimentação.

Enquanto setores ligados ao agronegócio se beneficiaram deste novo modelo de produção, alcançando lucros extraordinários e ditando as regras, a produção feita pelos produtores familiares se tornou cada vez mais difícil de ser continuada, principalmente pelas determinações colocadas pelo mercado. 

Em resumo, toda essa conjuntura mostra que nos últimos anos a agricultura nestes moldes se tornou insustentável tanto no contexto social quanto ambiental. Sendo assim, torna-se cada vez mais imprescindível pensar em outras formas de produção. Essas alternativas devem respeitar a existência da natureza e as necessidades humanas do ponto de vista coletivo e não do lucro a qualquer custo.

Novos caminhos

É a partir da necessidade de reinventar tais modelos de produção pautados por uma visão mercadológica e alcançar mais sustentabilidade que surge a agroecologia. 

Apesar de estar em permanente construção e desenvolvimento, a agroecologia pode ser colocada como a integração entre os diferentes conhecimentos, sendo eles populares, científicos e acadêmicos, a fim de superar a exploração e adotar a convivência respeitosa com os recursos naturais. Isso significa que para produzir e plantar é importante obter o conhecimento de princípios ecológicos básicos para para uma produção de alimentos que seja capaz de garantir que as famílias se alimentem, que a agricultura familiar seja reconhecida e apoiada e que a intervenção humana possa respeitar os ciclos da natureza potencializando os recursos e não os esgotando. 

Na prática, os métodos de adoção da agroecologia estão se tornando cada vez mais presentes no campo. Eles são responsáveis por importantes mudanças como a descontaminação e a mudança da exposição do solo. 

Dados e informações

O Governo Federal, no ano de 2012, disponibilizou a Cartilha Agroecológica. O documento contém diversos direcionamentos para um maior conhecimento teórico e técnico sobre agroecologia. Além disso, a iniciativa aponta diversas maneiras de se aplicar a agroecologia na prática.   

Um desses exemplos pode ser diferentes manejos que adotem uma cobertura correta para o solo. A partir de uma proteção correta para a terra que será usada para o plantio, pode ocorrer o ganho de matéria orgânica e biomassa. Isso permite que se demande menos de fertilizantes químicos e aumento o uso de fertilizantes naturais.

De acordo com o levantamento feito pela Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), no ano de 2020, foram mapeadas 725 iniciativas agroecológicas em 530 municípios do Brasil. 

Ainda segundo a pesquisa, o apoio do poder público, sobretudo municipal, se dá por meio de suporte na realização de ferias para venda de alimentos e pela compra institucional para programas Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que podem contar também com o apoio de governos estaduais. 

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é um exemplo de organização que adota métodos agroecológicos. De acordo com o movimento, mais de 50 mil famílias estão produzindo agroecologicamente nos assentamentos. 

Dentre os exemplos de adoção de agroecologia pelos produtores do MST estão quintais produtivos. Essas ações são iniciativas lideradas por mulheres camponesas que integram vários subsistemas. Entre eles estão jardins, hortas, pomares, plantas medicinais e a criação de pequenos animais complementados com a compostagem e adubação orgânica. 

Os desafios são muitos, mas superáveis 

Um dos desafios apontados pelo MST e que podem ser vistos em outros grupos ou produtores familiares é a ampliação de mercado e formação com conhecimento técnico para produtores familiares. 

Junto ao MST, por exemplo, diversas faculdades e institutos federais se propuseram, juntos aos agricultores, fornecer informações para compartilhar conhecimentos sobre a implementação da agroecologia. 

Segundo o movimento, a iniciativa teve como objetivo principal “elaborar grupos de técnicos populares que dominem a prática agroecológica e a construam em seus territórios de atuação”.

Uma iniciativa que pode ser destacada e que está no caminho de contribuição para os agricultores familiares é a “Agroecologia em Rede: Conectando elos para a transição orgânica da produção familiar amazônica”. 

Elaborada pelo Instituto Centro de Vida (ICV) e financiada pelo Programa Global REDD Early Movers (REM), a iniciativa tem como objetivo apoiar pelo período de dois anos a Rede de Produção Orgânica da Amazônia Mato-grossense (REPOAMA).

A rede foi formalizada em 2019 e é composta por famílias de 13 organizações comunitárias de Cotriguaçu, Nova Bandeirantes, Nova Monte Verde, Paranaíta e Alta Floresta. A ação do ICV fornece aos produtores uma certificação orgânica da produção. 

Esta certificação garante suporte na elaboração de planos de manejo orgânico, assessoria técnica nas propriedades, assessoria administrativa, capacitações, divulgação e articulação com parceiros para viabilidade econômica das atividades.

Atividades de organizações como a citada acima passa também pela troca de experiências populares e acadêmicas. Ou seja, a co-construção para um novo modelo de produção. Já por parte do Estado, é importante que ele forneça aos produtores espaços de mercados. 

Isso se dá pela democratização e aumento de feiras, bancas e mercados populares e também pela ampliação dos programas que garantam a comercialização de produtos da agricultura familiar com o teor agroecológico e orgânico.

No campo

Vanei Vasconcelos, camponês, artista e professor do assentamento do MST Oziel Alves Pereira é um exemplo de produtor que adota no seu cotidiano métodos agroecológicos. 

Localizado no município de Baliza em Goiás, Vanei descreve que esse tipo de método é muito mais que uma simples fórmula de produção. De acordo com ele é uma alternativa para a convivência pacífica entre ser humano e natureza.

Agroecologia é uma maneira de estar e conviver com o meio ambiente de maneira a respeitar as características essenciais desse meio, usando os recursos necessários à vida humana de modo responsável e agindo de modo a potencializar tais recursos para as próximas gerações”, diz ele. 

Vanei elenca quais foram os principais desafios para a adoção da agroecologia em sua parcela:

  • Ter a mentalidade de respeito pela natureza e ao mesmo tempo viver num meio social que promove o tipo oposto de abordagem. 
  • Nesse sentido é preciso superar a própria cultura, na qual fui criado, que se baseia na concepção tradicional de exploração da natureza;
  • Falta de subsídios governamentais;
  • Pouco material científico disponível sobre técnicas agroecológicas específicas;

Mas ainda de acordo com o agricultor, os benefícios superam as dificuldades:

  • Melhor saúde física e mental;
  • Solo, plantas e todo ecossistema local mais saudável;
  • Energias pessoais e consciência em harmonia com o todo natural;
  • Fortalecimento das espécies de seres vivos no ecossistema.

Construção

Por fim, Vanei explica o caminho que percorreu para chegar até o momento de coexistência respeitosa com o ecossistema que está inserido e como a sua vida é pautada nos princípios da agroecologia.  

Readaptei todas as minhas necessidades naturais e modo de vida para estar de acordo com o andamento que vou descobrindo ser o natural. Eliminei usos de material químico nas plantações que faço. Acabei com a dependência de aportes externos que sejam provindos de métodos e materiais obtidos com prejuízo dos meios naturais. Agora, guio-me pelos métodos de agrofloresta orgânicos na convivência com a natureza e na produção de minha própria alimentação”.

Nos chame pra contar sobre sua experiência com agroecologia ou tirar dúvidas pra gente aprimorar nosso conteúdo sobre o assunto.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *